quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Behind Blue Eyes

Há dias cinzas. O céu azul, os passaros cantando. Mais parecem fantasmas. Quase abstratos.
O mar toca seu corpo, mas não o envolve. E como poderia, se ele não está ali?
Está sim, a alguns anos-luz, imerso nos próprios pensamentos.
Como pensamentos podem ser penosos, um esforço quase físico.
Sentir o sol parece um trabalho dificílimo, mas mover montanhas é absolutamente natural.
Breve o torpor finda, e serão apenas olhos azuis.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Paixões

 É como o fogo, insistentemente ardendo. A motivação que repercute, movendo o tecido inerte, pelo labirinto, e pelos devaneios.
 É inebriante, irresistível. Como sorver todo o ar, de uma só vez. Perder o fôlego.
 A vida é paixão, em todos os aspectos. Apenas intensidade pode nortear uma existência. Queimando-a com a chama mais ardente.
 Falsa chama se externa. O que realmente incendeia está dentro de cada um. Let it burn.

sábado, 19 de março de 2011

Carnaval: O baile dos mascarados.

 Era noite. A friagem e a chuva deixavam a pele arrepiada. Permanentemente arrepiada.
 As luzes eram um espetáculo à parte. As fantasias de cores e texturas desfilavam. Apenas beleza.
 O som era denso. Ritmos em uma profusão deliciosamente harmônica. Movendo cada fibra do corpo, num ritmo frenético e irresistível.
 No meio da profusão de sons, cheiros e luzes uma máscara especial. Irresistível. O mundo se resumia ao azul e branco. O marinheiro valsava pela multidão. Navegava pelo mar de gente comum.
 E num segundo me avistou.
 Aquele dia o sol nasceu mais cedo. Ou foi a noite que passou como um segundo?  
 O raiar do sol evola a sedução da noite. E o que fica no ar é apenas lembrança. Lembrança do azul e branco.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Jardineiro

 Era um belo terreno. Um latifúndio. Não que a terra não fosse fértil. Afinal, havia árvores centenárias lá, passadas de geração em geração. Além de uma árvores frondosas, raríssimas.
 Mas o resto era desértico. O que havia de errado, o nascer de plantas era natural como respirar. Cresce inclusive em pedregulhos, em áreas inóspitas. E por que ali não nasciam?
 Seriam as sementes? Pouco provável. Falta de água? Também não.
 Apenas uma explicação possível: o jardineiro. Não sabia o que fazer com toda aquela terra. Não sabia como plantar, e principalmente, como cultivar as sementes, e fazer com que brotassem e vicejassem. Então, apenas regava as árvores existentes, de modo muito desajeitado.
 Mas um belo dia, percebeu que a terra poderia ser mais bonita. Com flores, árvores arbustos e grama. Uma profusão de cores e aromas. O problema é que a não havia escola de jardinagem,  era conhecimento nato diziam alguns.
 Decidiu conversar com as árvores. Sábias, sedentas por mais árvores na vizinhança. Assim ficaria mais bonito.
 Então começou o laborioso trabalho. Preparar a terra, adubar, e plantar as sementes. Será um belo jardim.

domingo, 2 de janeiro de 2011

2011

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”
Fernando Pessoa


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Epílogo 0

O início e o porquê.
O céu seria vão sem o amor.
É a lança que devasta, e o escudo intransponível.
Os mais poderosos já forjados.
O ar inebriante e pernicioso.
Irresisitível.


Nietzsche

Seria apenas mais um filósofo complexo, se não fizesse todo o sentido. É tão fácil apenas seguir. Se pautar em algo intangível e irresistivelmente confortante. Atribuir os infortúnios a algo imutável, predestinado.
Só se pode enxergar quando não há os confortáveis véus. Impedem a poeira, mas toldam a visão. E o anseio de ver tem apenas um resultado: a dúvida. A inquietação é inerente ao conhecimento. Não se analisa quando não se conhece. Como os albinos de uma caverna de névoa eterna, não conhecem as peles bronzeadas pelo sol. Nem o ar quente, que infla e queima os pulmões, habitualmente frios.
Mas, o ar quente é para ser sorvido, em doses cavalares. Afinal, o conhecimento é irresistível.